Sobre a questão indígena!!!

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Essa semana tivemos as “comemorações” do dia do índio, mas conversamos sempre muito pouco sobre o assunto. Então que tal uma troca de ideias pra gente começar a olhar a temática com mais cuidado. É preciso lembrar que não trago soluções ou análises miraculosas, o papel desse espaço é começar a debater temáticas cada dia mais latentes e que nos pega, por vezes, desprevenido. Mas vamos lá! Construir juntos e compartilhar ideias e conhecimento. Porém, primeiro é preciso entender que o nosso compromisso é defender a luta dos povos indígenas, suas identidades, territórios e visibilidade, combater a descriminação e desigualdade e ressaltar o direito a diversidade cultural e religiosa.

No processo histórico de colonização do Brasil, os povos indígenas foram mortos, caçados, escravizados, expulsos de suas terras. Em muitos casos, foram negados inclusive o direito de existir, como no decreto da província do Ceará de 1863 que declarava que não havia mais índios no Estado, causando uma grande exclusão social, política e cultural destes povos. Até hoje, a luta pelo reconhecimento dessa etnia é negada, não somente pelo Estado, mas por alguns originários, que por causa desta pressão discriminatória, têm receio de declarar sua descendência.

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Mesmo com tudo isso, vemos no Ceará uma luta crescente pelo “existir”. São cerca de 16 etnias indígenas, sendo os mais conhecidos os Jenipapo-Canindé, em Aquiraz; os Tapeba, na Caucaia; Pitaguary, em Maracanaú e Pacatuba, e os Tremembé, que vivem na região de Almofala (Itarema) e Itapipoca, tendo esses últimos uma história importante de luta pela terra, fundando a ONG Missão Tremembé, capitaneada por Maria Amélia, que dedicou boa parte de sua vida às causas indígenas.

Mas por que tanto alvoroço na luta pela terra indígena? Vou trazer o que mais me fustiga. Acredito que o atual sistema econômico não enxerga nas aldeias indígenas um potencial econômico que agrade seu modo predatório. O modo de vida nativo enxerga o mundo de outra forma, não tem vínculos de consumo, dedica uma pequena parte de seu dia ao trabalho – o suficiente para manter sua aldeia – e nas outras horas se destina a outros afazeres, como festas, artesanato, jogos, ócio, religião, enfim, outras tantas atividades que o conectam com sua aldeia, sua ancestralidade e cultura. Além disso, a perspectiva de mundo indígena entende o homem como parte viva da natureza e não como explorador da mesma. O capital não consegue imaginar o mundo assim, pra ele todos têm de trabalhar, produzir e consumir para uma minoria “privilegiada” gozar.

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Muitas comunidades indígenas estão estabelecidas em locais de interesse do capital. Como os Tremembé em Itapipoca, que estão próximos a praia da Baleia e sofriam durante anos com os avanços covardes de empresários que queriam instalar um complexo de resort’s em seu território, prometendo empregos e outros benefícios irreais. Aliás, sobre isso é importante alertar que em todos os casos, esses empreendimentos ocupam territórios históricos, empregam os nativos em subempregos, com salários que não pagam a autonomia com a qual vivem, são ambientalmente predatórios e em pouco tempo acabam com a identidade local, atraindo turismo sexual, tráfico de drogas e etc…

O indígena tem uma relação de preservação do bioma em que está inserido. Mesmo produzindo seus pés de roça para farinhada, seu feijão e seu milho, é possível, em muitas comunidades – sobretudo as mais rurais – ver que muitos preservam sementes nativas (criolas) e não fazem uso de agrotóxico. Além de cultivarem plantas seculares para seus rituais de celebração da vida, natureza, ancestralidade, enfim, como os próprios Tremembé fazem na famosa festa do Murici e Batiputá, onde celebram a colheita dessas espécies.

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E são muitos os desafios indígenas, um deles é conseguir barrar a PEC 215 que dá ao congresso o poder de demarcar suas terras. Ora, num congresso onde maioria é ruralista fica claro que se trata de uma manobra crucial contra esses povos. Aliás, deveria caber ao governo, através de órgãos sérios de estudo e pesquisa, a delimitação correta e urgente desse território, uma vez que a cada dia muitas e muitas fatias de espaço são subtraídas dos povos indígenas. Outro enfrentamento é contra o preconceito, precisamos entender que ser índio não significa ter que andar nu e morar em oca, é imprescindível acabar com essa ignorância e compreender que existem ainda muitos indígenas no Brasil e que eles não estão perdendo sua cultura, afinal, a cultura está em constante transformação, não se perde, então índio pode sim ter celular (e deve) e nossa troca deve ser justa com eles, não impositiva e dominadora (como é!).

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É necessário, enquanto partido e sociedade, entender a importância da pluralidade étnica que constrói nossa nação, entender a questão indígena através da fala para os próprios índios, compreendendo seu modo de vida e sua forma de enxergar o mundo e, principalmente, sabendo que aqui cabem todas essas identidades e, quanto mais plurais, mais nossa construção enquanto cidadãos será tolerante e consciente.

Feirinhas orgânicas e a possibilidade de pensar a agricultura urbana

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Sabe uma boa pedida pra uma terça-feira de manhã? Mercado dos Pinhões, na Praça Visconde de Pelotas, entre a Nogueira Accioly e a Gonçalves Lêdo, no centro, próximo a Praia de Iracema. O Mercado dos Pinhões é parte do antigo Mercado das Carnes, que foi inaugurado em 1897. O mercado tem sua estrutura de ferro produzida na França, portanto ela poderia ser deslocada facilmente, tanto é que a outra parte do mercado está ali na Aerolândia, já repararam? Na feirinha, perto da BR-116. Fiquem atentos quando passarem por lá, verão a mesma estrutura montada.

Pois bem, vi no perfil da SECULTFOR a divulgação da feirinha do mercado, com produtos orgânicos, como só conhecia a feira da Gentilândia, resolvi visitar a turma do mercado e foi bem interessante. Primeiro pela diversidade de produtos originais, muita coisa que eu nem conhecia, como a batata yacon, produto original da cordilheira dos andes, excelente para combater diabetes e colesterol alto e uma curiosidade, você a come crua, é bem doce, uma delícia. Encontrei molhos de tomate orgânicos, Kimchi, um condimento coreano delicioso, ricota orgânica (feita com castanha de caju e uma serie de iguarias).

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Conheci um casal sobralense, Seu Nonato e Dona Paulinha, que fazem parte da associação da feirinha, no box deles tinha uma variedade interessante de produtos; arroz orgânico, feijão, milho, manteiga de garrafa, mel de engenho, mel com favo e até Kefir que é, na verdade, lactobacilos vivos, excelentes pra “rearranjar” a flora intestinal e tudo a preços acessíveis. O vizinho do casal era o Wagner, um dos coordenadores da associação, todos seus produtos vêm de seu sítio, no Mulungu, inclusive o Shimeji fresquinho que ele traz. Enfim, uma variedade riquíssima de produtos que nos possibilitam arriscar vários pratos diferentes e saudáveis, explorando da culinária sertaneja até as iguarias asiáticas.

O que nos chama atenção da feira é o quanto de produtos podemos, inclusive, produzir em nossas residências: manjericão, tomate cereja, cheiro verde, pimentão, pimenta, alecrim, beterraba, cenoura, além das plantas medicinais. Pra quem tem um espaço maior, um quintal grande, aí pode ter até frutíferas. A questão é que além da iniciativa, digamos, familiar, é preciso também pensarmos criteriosamente, já que cada dia nos deparamos mais com produtos industrializados, frutas e verduras entupidas de agrotóxicos, produtos cultivados com sementes transgênicas e coincidentemente (aliás, NÃO) o crescimento acintoso de câncer nas pessoas. Você tem ideia do quanto de agrotóxicos consumimos (somos o país que mais consome veneno no mundo)? Você tem ideia da quantidade de hormônios que dão aos frangos de corte? E o formol, que parece ser prática corriqueira e em larga escala nos cortes bovinos? Você realmente quer consumir isso?

Temos que repensar o que consumimos, em todas as esferas; o quanto consumimos o que consumimos e o porquê consumimos. A alimentação passa por esse processo de conscientização, principalmente pra nós que vivemos num ambiente urbano e caótico, com horários corridos e deslocamentos constantes, e mais; temos que pensar o envolvimento do poder público nesse debate, de leis que proíbam o uso de agrotóxicos e sementes transgênicas na produção até o detalhamento nutricional do que consumimos nos estabelecimentos. Inclusive, um incentivo pesado na agricultura urbana. Pensar os telhados verdes, o consumo consciente, a otimização dos espaços vazios urbanos para prática de agricultura, as praças com mandalas e frutíferas, escolas com hortas, massificar a consciência ecológica e o cuidado com o meio ambiente, isso dirá muito sobre quem seremos futuramente.

Essa ideia de “maluco” não está longe de nós não, há várias cidades que vem investindo em agricultura urbana, como Berlim, Amsterdã, Copenhague, Estocolmo e, bem pertinho de nós, São Paulo. Seria também fundamental essa prática junto as comunidades menos assistidas, marginalizadas, empregando hortas comunitárias e incentivando as pessoas a produzir e gerenciar em coletivo, envolvendo as famílias, diminuindo o custo com o básico, garantindo um processo de autonomia e pertencimento. Com certeza, essas iniciativas não ficam em nós apenas no âmbito trivial, mas influencia no tipo de cidadão que seremos em nossa cidade, na nossa visão de mundo e capacidade de transformação. Vamos pensar e estudar mais sobre a agricultura urbana como uma das várias ações para transformar nossa cidade em uma cidade voltada para pessoas.

Se você tem mais interesse, vou disponibilizar uns vídeos da galera do MUDA (Movimento Urbano de Agroecologia).

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