Sobre a questão indígena!!!

1453

Essa semana tivemos as “comemorações” do dia do índio, mas conversamos sempre muito pouco sobre o assunto. Então que tal uma troca de ideias pra gente começar a olhar a temática com mais cuidado. É preciso lembrar que não trago soluções ou análises miraculosas, o papel desse espaço é começar a debater temáticas cada dia mais latentes e que nos pega, por vezes, desprevenido. Mas vamos lá! Construir juntos e compartilhar ideias e conhecimento. Porém, primeiro é preciso entender que o nosso compromisso é defender a luta dos povos indígenas, suas identidades, territórios e visibilidade, combater a descriminação e desigualdade e ressaltar o direito a diversidade cultural e religiosa.

No processo histórico de colonização do Brasil, os povos indígenas foram mortos, caçados, escravizados, expulsos de suas terras. Em muitos casos, foram negados inclusive o direito de existir, como no decreto da província do Ceará de 1863 que declarava que não havia mais índios no Estado, causando uma grande exclusão social, política e cultural destes povos. Até hoje, a luta pelo reconhecimento dessa etnia é negada, não somente pelo Estado, mas por alguns originários, que por causa desta pressão discriminatória, têm receio de declarar sua descendência.

DSC06343

Mesmo com tudo isso, vemos no Ceará uma luta crescente pelo “existir”. São cerca de 16 etnias indígenas, sendo os mais conhecidos os Jenipapo-Canindé, em Aquiraz; os Tapeba, na Caucaia; Pitaguary, em Maracanaú e Pacatuba, e os Tremembé, que vivem na região de Almofala (Itarema) e Itapipoca, tendo esses últimos uma história importante de luta pela terra, fundando a ONG Missão Tremembé, capitaneada por Maria Amélia, que dedicou boa parte de sua vida às causas indígenas.

Mas por que tanto alvoroço na luta pela terra indígena? Vou trazer o que mais me fustiga. Acredito que o atual sistema econômico não enxerga nas aldeias indígenas um potencial econômico que agrade seu modo predatório. O modo de vida nativo enxerga o mundo de outra forma, não tem vínculos de consumo, dedica uma pequena parte de seu dia ao trabalho – o suficiente para manter sua aldeia – e nas outras horas se destina a outros afazeres, como festas, artesanato, jogos, ócio, religião, enfim, outras tantas atividades que o conectam com sua aldeia, sua ancestralidade e cultura. Além disso, a perspectiva de mundo indígena entende o homem como parte viva da natureza e não como explorador da mesma. O capital não consegue imaginar o mundo assim, pra ele todos têm de trabalhar, produzir e consumir para uma minoria “privilegiada” gozar.

image

Muitas comunidades indígenas estão estabelecidas em locais de interesse do capital. Como os Tremembé em Itapipoca, que estão próximos a praia da Baleia e sofriam durante anos com os avanços covardes de empresários que queriam instalar um complexo de resort’s em seu território, prometendo empregos e outros benefícios irreais. Aliás, sobre isso é importante alertar que em todos os casos, esses empreendimentos ocupam territórios históricos, empregam os nativos em subempregos, com salários que não pagam a autonomia com a qual vivem, são ambientalmente predatórios e em pouco tempo acabam com a identidade local, atraindo turismo sexual, tráfico de drogas e etc…

O indígena tem uma relação de preservação do bioma em que está inserido. Mesmo produzindo seus pés de roça para farinhada, seu feijão e seu milho, é possível, em muitas comunidades – sobretudo as mais rurais – ver que muitos preservam sementes nativas (criolas) e não fazem uso de agrotóxico. Além de cultivarem plantas seculares para seus rituais de celebração da vida, natureza, ancestralidade, enfim, como os próprios Tremembé fazem na famosa festa do Murici e Batiputá, onde celebram a colheita dessas espécies.

indio01

E são muitos os desafios indígenas, um deles é conseguir barrar a PEC 215 que dá ao congresso o poder de demarcar suas terras. Ora, num congresso onde maioria é ruralista fica claro que se trata de uma manobra crucial contra esses povos. Aliás, deveria caber ao governo, através de órgãos sérios de estudo e pesquisa, a delimitação correta e urgente desse território, uma vez que a cada dia muitas e muitas fatias de espaço são subtraídas dos povos indígenas. Outro enfrentamento é contra o preconceito, precisamos entender que ser índio não significa ter que andar nu e morar em oca, é imprescindível acabar com essa ignorância e compreender que existem ainda muitos indígenas no Brasil e que eles não estão perdendo sua cultura, afinal, a cultura está em constante transformação, não se perde, então índio pode sim ter celular (e deve) e nossa troca deve ser justa com eles, não impositiva e dominadora (como é!).

SAM_0773

É necessário, enquanto partido e sociedade, entender a importância da pluralidade étnica que constrói nossa nação, entender a questão indígena através da fala para os próprios índios, compreendendo seu modo de vida e sua forma de enxergar o mundo e, principalmente, sabendo que aqui cabem todas essas identidades e, quanto mais plurais, mais nossa construção enquanto cidadãos será tolerante e consciente.

Plurais Urbanos

A quem pertence nossa cidade? Pra onde ela vai? Como vamos cuidar dela? Quem são as pessoas que compõe o tecido humano dessa cidade? Que tipo de cidade precisamos? Essa e mais algumas outras perguntas vem, algum tempo, martelando minha cabeça, me provocando a pensar mais e mais. Nas rodas de conversas, no bate papo com os amigos no bar, na pedalada nos fins de semana e na preguiça de domingo, quando curto minha filha brincando pela sala, sem imaginar que tipo de cidade ela encontrará daqui uns anos. Então resolvi criar essa plataforma pra gente fazer uma expedição à Fortaleza de hoje, que pulsa nos sons das buzinas de carro, nos palavrões dos motoristas indignados, no preço do totolec, na risada de quem está na esquina, na história de vida dos feirantes, no vai e vem das pernas dos trabalhadores e trabalhadoras que fazem essa máquina, por vezes covarde, a funcionar.

Pois é, meu nome é David Faustino, moro no Montese, estudei administração, hoje estudo ciências politicas, trabalho num órgão público e queria, também por essa plataforma, entender quem somos em meio a esse caos e quem sabe contribuir para os processos de reinvenção dessa cidade, onde vivo e escolhi viver! Plurais Urbanos nasce dessa fustigação, dessa vontade de sentir a cidade e tratá-la como algo vivo e não apenas como um lugar de negócios ou de circulação de mercadorias, mas construí-la como possibilidade de encontro, afeto, igualdade e justiça. Vamos tentar sempre provocar debates sobre diversos temas que nos provoquem e chamamos todos vocês a dar sugestões, indicar pautas e puxar o debate, vamos lá tomar nossa cidade pra nós…