Feirinhas orgânicas e a possibilidade de pensar a agricultura urbana

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Sabe uma boa pedida pra uma terça-feira de manhã? Mercado dos Pinhões, na Praça Visconde de Pelotas, entre a Nogueira Accioly e a Gonçalves Lêdo, no centro, próximo a Praia de Iracema. O Mercado dos Pinhões é parte do antigo Mercado das Carnes, que foi inaugurado em 1897. O mercado tem sua estrutura de ferro produzida na França, portanto ela poderia ser deslocada facilmente, tanto é que a outra parte do mercado está ali na Aerolândia, já repararam? Na feirinha, perto da BR-116. Fiquem atentos quando passarem por lá, verão a mesma estrutura montada.

Pois bem, vi no perfil da SECULTFOR a divulgação da feirinha do mercado, com produtos orgânicos, como só conhecia a feira da Gentilândia, resolvi visitar a turma do mercado e foi bem interessante. Primeiro pela diversidade de produtos originais, muita coisa que eu nem conhecia, como a batata yacon, produto original da cordilheira dos andes, excelente para combater diabetes e colesterol alto e uma curiosidade, você a come crua, é bem doce, uma delícia. Encontrei molhos de tomate orgânicos, Kimchi, um condimento coreano delicioso, ricota orgânica (feita com castanha de caju e uma serie de iguarias).

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Conheci um casal sobralense, Seu Nonato e Dona Paulinha, que fazem parte da associação da feirinha, no box deles tinha uma variedade interessante de produtos; arroz orgânico, feijão, milho, manteiga de garrafa, mel de engenho, mel com favo e até Kefir que é, na verdade, lactobacilos vivos, excelentes pra “rearranjar” a flora intestinal e tudo a preços acessíveis. O vizinho do casal era o Wagner, um dos coordenadores da associação, todos seus produtos vêm de seu sítio, no Mulungu, inclusive o Shimeji fresquinho que ele traz. Enfim, uma variedade riquíssima de produtos que nos possibilitam arriscar vários pratos diferentes e saudáveis, explorando da culinária sertaneja até as iguarias asiáticas.

O que nos chama atenção da feira é o quanto de produtos podemos, inclusive, produzir em nossas residências: manjericão, tomate cereja, cheiro verde, pimentão, pimenta, alecrim, beterraba, cenoura, além das plantas medicinais. Pra quem tem um espaço maior, um quintal grande, aí pode ter até frutíferas. A questão é que além da iniciativa, digamos, familiar, é preciso também pensarmos criteriosamente, já que cada dia nos deparamos mais com produtos industrializados, frutas e verduras entupidas de agrotóxicos, produtos cultivados com sementes transgênicas e coincidentemente (aliás, NÃO) o crescimento acintoso de câncer nas pessoas. Você tem ideia do quanto de agrotóxicos consumimos (somos o país que mais consome veneno no mundo)? Você tem ideia da quantidade de hormônios que dão aos frangos de corte? E o formol, que parece ser prática corriqueira e em larga escala nos cortes bovinos? Você realmente quer consumir isso?

Temos que repensar o que consumimos, em todas as esferas; o quanto consumimos o que consumimos e o porquê consumimos. A alimentação passa por esse processo de conscientização, principalmente pra nós que vivemos num ambiente urbano e caótico, com horários corridos e deslocamentos constantes, e mais; temos que pensar o envolvimento do poder público nesse debate, de leis que proíbam o uso de agrotóxicos e sementes transgênicas na produção até o detalhamento nutricional do que consumimos nos estabelecimentos. Inclusive, um incentivo pesado na agricultura urbana. Pensar os telhados verdes, o consumo consciente, a otimização dos espaços vazios urbanos para prática de agricultura, as praças com mandalas e frutíferas, escolas com hortas, massificar a consciência ecológica e o cuidado com o meio ambiente, isso dirá muito sobre quem seremos futuramente.

Essa ideia de “maluco” não está longe de nós não, há várias cidades que vem investindo em agricultura urbana, como Berlim, Amsterdã, Copenhague, Estocolmo e, bem pertinho de nós, São Paulo. Seria também fundamental essa prática junto as comunidades menos assistidas, marginalizadas, empregando hortas comunitárias e incentivando as pessoas a produzir e gerenciar em coletivo, envolvendo as famílias, diminuindo o custo com o básico, garantindo um processo de autonomia e pertencimento. Com certeza, essas iniciativas não ficam em nós apenas no âmbito trivial, mas influencia no tipo de cidadão que seremos em nossa cidade, na nossa visão de mundo e capacidade de transformação. Vamos pensar e estudar mais sobre a agricultura urbana como uma das várias ações para transformar nossa cidade em uma cidade voltada para pessoas.

Se você tem mais interesse, vou disponibilizar uns vídeos da galera do MUDA (Movimento Urbano de Agroecologia).

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